quarta-feira, 2 de março de 2011

O exclusivismo humano e a ecologia


Para melhor entendimento do assunto, julgamos necessário fazer ligeira digressão sobre o instinto animal. A natureza toda está inserida no planeta de uma forma perfeita, harmoniosa e sábia. Não somente isso. A natureza é bela, pura, justa e irradia, permanentemente, mensagens sublimes que, captadas pela sensibilidade espiritual, põem-nos em comunhão com as energias cósmicas.
Aos seres vivos tais forças outorgaram o instinto, agregado à genética, que lhes guia o comportamento na dinâmica da vida por meio de um código que se inscreve em todas as células.
Face aos fatores de evolução das espécies, por ação de algum agente de mutação, o homem ficou provido de uma prega na laringe, capacitando-se a modular sons guturais primários. No ponto em que o homem primitivo, ou hominídeo, começou a usar palavras articuladas, as coisas concretas de seu meio passaram a ter presença através de símbolos sonoros, ocasionando a entrada do homem no campo da imagem mental, detonando uma rápida evolução do cérebro.
O exercício da inteligência determinava as ações. E os instintos correspondentes foram sendo relegados à atrofia pelo não uso até a extinção de uns ou a latência de outros, atuantes sob a forma de subconsciência. Daí em diante, o que era feito sem conhecimento de causa e efeito, foi substituído pelo pensamento racional.
Ocorre que alguns instintos permanecem no comando de certas ações do homem. Dentre eles, destacamos o de agregação – por necessidade de segurança –, que se desdobra sob as formas de companheirismo, solidariedade, corporativismo, filantropia, compaixão. Sintetizados em linguagem mais espiritual, fixam-se na expressão “amor ao próximo”, bastante divulgada pelas religiões, cujos objetivos nos Planos Superiores, é ser complementar aos cuidados convergentes na preservação da espécie.
Esse instinto sobrepõe-se à razão. É por esse motivo que estamos sempre agindo e reagindo em função dos interesses do homem, obscurecendo uma percepção mais ampla do meio vital. Até o raciocínio superficial é enublado por ele, tornando-se responsável direto pelo antropocentrismo, instinto natural no homem biológico, mas altamente prejudicial aos interesses do meio ambiente, conforme deduz o homem pensante. O antropocentrismo é atributo natural e já foi muito útil para o homem primitivo que lutava para sobreviver. Mas hoje? Quando dispomos de todos os recursos proporcionados pelo progresso material?
Devemos adotar uma visão participativa na Natureza, a fim de evitar atitudes egoísticas. Nota-se que somente agora, quando o homem se vê ameaçado pelos atos danosos de sua obra, é que corre para defender a biodiversidade. É uma atitude interesseira e vergonhosa. Ainda não nos conseguimos libertar do antropocentrismo, que nos impede de perceber o panorama do biocomplexo.
Matam-se milhões de criaturas cohabitantes do planeta, em função dos interesses lucrativos humanos que não perguntam se tal procedimento condiz com o respeito à Vida.
Sob certos aspectos, o homem é um animal inferior, pois não possui a orientação do instinto pleno, um mecanismo muito mais eficiente, porque concebido pela Inteligência Superior e que sempre deu certo.
Dizem as religiões que o homem é pecador. Esclarecemos que é ele o único ser vivo pecador – porque o único a dispor do livre arbítrio, voltado para o egoísmo de espécie – e que deveria usar tal atributo com o máximo cuidado e humildade, pondo-o a serviço do respeito e preservação do biossistema.
Mas assim não age. Destrói tudo. Viola todas as leis naturais tais como:
1) Impede que o mecanismo seletivo e criador da genética se exerça segundo as leis da Natureza;
2) Vai até ao âmago sagrado e, com fúria incontida, profana e macula o “Mistério Divino”, resguardado no íntimo do átomo;
3) Destrói comunidades indígenas que vivem em total harmonia com as leis naturais.
Tudo isso em nome do chamado desenvolvimento. Ouvimos várias vezes a palavra “desenvolvimento” ser pronunciada como premissa maior. Ela justifica a quebra da harmonia de qualquer bioma ou patrimônio natural.
A espécie humana atualmente é o bandido da História.


(Ecodebate - artigo de Maurício Gomide Martins)

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