quarta-feira, 16 de março de 2011

Tribo indígena Fulni-ô monta programa para escolas paulistas




A cultura indígena está presente no currículo brasileiro, e tribos de regiões distintas buscam difundir sua cultura através de programas e oficinas que oferecem para as escolas de todo o Brasil. Em São Paulo, o Instituto Sidarta organizou, juntamente com o grupo Fowá- da tribo Fulni-ô (PE), uma programação com foco educacional e cultural para o mês de abril.

Segundo a coordenadora da Ação Fulni-ô do Instituto Sidarta, Cristiane Marcondes, " os Fulni-ô são bilíngues. Sua língua materna é o Iathé. Atualmente habitam o município de Águas Belas, em Pernambuco, e mesmo próximos da cultura do "homem-branco", suas tradições mais antigas continuam vivas e prontas para serem compartilhadas através de um programa bem estruturado de oficinas e palestras". A escola interessada em levar o grupo Fowá- da tribo Fulni-ô a seus alunos, deve fazer a inscrição (vagas limitadas) e buscar mais informações pelo site http://www.sidarta.g12.br/blog/?cat=8 ou telefone (11) 46122711.

As oficinas que farão parte do programa:


• GRAFISMO INDÍGENA: oficina teórico-prática com urucum e genipapo, abordando: pinturas em papel, pinturas corporais, o significado e simbologias dos desenhos


• CANTIGAS E BRINCADEIRAS INFANTIS: cantigas infantis na língua Iathé e brincadeiras vivenciadas na tribo.


• CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS INDÍGENAS: contação de histórias sobre a natureza, mitos e vivências na aldeia.


• CONTRUÇÃO DE ARTEFATOS INDÍGENAS:_ arco e flecha: como montar o arco, pintar a flecha e saber atirar; instrumentos musicais: apito e o maracá e ornamentos indígenas (leque de palha e colar de semente).


• A LÍNGUA IATHÉ: A origem da língua Iathé; sons, palavras e frases importantes; tradução para o português; a língua como instrumento de preservação cultural; a língua Iathé hoje; aprendizado de u m canto-hino da tribo fulni-ô e sua tradução.

APRESENTAÇÕES E PALESTRAS

. CANTO E DANÇA FULNI-Ô- Apresentação dos cantos e danças típicas da tribo Fulni-ô, com participação dos estudantes e professores.


• PALESTRA SOBRE A CULTURA DOS ÍNDIOS FULNI-Ô E SUA RELAÇÃO COM A FLORESTA- Apresentação contendo: vídeo e fotos do cotidiano, explicação sobre costumes e meio ambiente, a relação h omem-natureza e seus reflexos na cultura, relações sociais e práticas espirituais (o significado das pajelanças).


• PALESTRA SOBRE ERVAS E ÁRVORES - Palestra sobre ervas medicinais e seus princípios ativos; explicação com fotos, sobre a utilização sustentável da vegetação local.

domingo, 6 de março de 2011

Pra pensar...

A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo - foi escrita por Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal, especialista em direito sócio ambiental e empresário, diretor de Parque Nacionais e Reservas do IBDF-IBAMA 88-89, detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.


"Prezado Luís, quanto tempo.
Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.
Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra, né, Luis?
Pois é. Estou pensando em mudar para viver aí na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade. Tô vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né, Luís?
Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né .) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?
Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra, né, Luís? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.
Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom, Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.
Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.
Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ia mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô, Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande, né?
Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.
Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né, Luís? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.
Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.
Tô preocupado, Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.
Eu vou morar aí com vocês, Luís. Mais fique tranquilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sítio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça. Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio."

(Todos os fatos e situações de multas e e
Até mais, Luis.
xigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)

quarta-feira, 2 de março de 2011

O exclusivismo humano e a ecologia


Para melhor entendimento do assunto, julgamos necessário fazer ligeira digressão sobre o instinto animal. A natureza toda está inserida no planeta de uma forma perfeita, harmoniosa e sábia. Não somente isso. A natureza é bela, pura, justa e irradia, permanentemente, mensagens sublimes que, captadas pela sensibilidade espiritual, põem-nos em comunhão com as energias cósmicas.
Aos seres vivos tais forças outorgaram o instinto, agregado à genética, que lhes guia o comportamento na dinâmica da vida por meio de um código que se inscreve em todas as células.
Face aos fatores de evolução das espécies, por ação de algum agente de mutação, o homem ficou provido de uma prega na laringe, capacitando-se a modular sons guturais primários. No ponto em que o homem primitivo, ou hominídeo, começou a usar palavras articuladas, as coisas concretas de seu meio passaram a ter presença através de símbolos sonoros, ocasionando a entrada do homem no campo da imagem mental, detonando uma rápida evolução do cérebro.
O exercício da inteligência determinava as ações. E os instintos correspondentes foram sendo relegados à atrofia pelo não uso até a extinção de uns ou a latência de outros, atuantes sob a forma de subconsciência. Daí em diante, o que era feito sem conhecimento de causa e efeito, foi substituído pelo pensamento racional.
Ocorre que alguns instintos permanecem no comando de certas ações do homem. Dentre eles, destacamos o de agregação – por necessidade de segurança –, que se desdobra sob as formas de companheirismo, solidariedade, corporativismo, filantropia, compaixão. Sintetizados em linguagem mais espiritual, fixam-se na expressão “amor ao próximo”, bastante divulgada pelas religiões, cujos objetivos nos Planos Superiores, é ser complementar aos cuidados convergentes na preservação da espécie.
Esse instinto sobrepõe-se à razão. É por esse motivo que estamos sempre agindo e reagindo em função dos interesses do homem, obscurecendo uma percepção mais ampla do meio vital. Até o raciocínio superficial é enublado por ele, tornando-se responsável direto pelo antropocentrismo, instinto natural no homem biológico, mas altamente prejudicial aos interesses do meio ambiente, conforme deduz o homem pensante. O antropocentrismo é atributo natural e já foi muito útil para o homem primitivo que lutava para sobreviver. Mas hoje? Quando dispomos de todos os recursos proporcionados pelo progresso material?
Devemos adotar uma visão participativa na Natureza, a fim de evitar atitudes egoísticas. Nota-se que somente agora, quando o homem se vê ameaçado pelos atos danosos de sua obra, é que corre para defender a biodiversidade. É uma atitude interesseira e vergonhosa. Ainda não nos conseguimos libertar do antropocentrismo, que nos impede de perceber o panorama do biocomplexo.
Matam-se milhões de criaturas cohabitantes do planeta, em função dos interesses lucrativos humanos que não perguntam se tal procedimento condiz com o respeito à Vida.
Sob certos aspectos, o homem é um animal inferior, pois não possui a orientação do instinto pleno, um mecanismo muito mais eficiente, porque concebido pela Inteligência Superior e que sempre deu certo.
Dizem as religiões que o homem é pecador. Esclarecemos que é ele o único ser vivo pecador – porque o único a dispor do livre arbítrio, voltado para o egoísmo de espécie – e que deveria usar tal atributo com o máximo cuidado e humildade, pondo-o a serviço do respeito e preservação do biossistema.
Mas assim não age. Destrói tudo. Viola todas as leis naturais tais como:
1) Impede que o mecanismo seletivo e criador da genética se exerça segundo as leis da Natureza;
2) Vai até ao âmago sagrado e, com fúria incontida, profana e macula o “Mistério Divino”, resguardado no íntimo do átomo;
3) Destrói comunidades indígenas que vivem em total harmonia com as leis naturais.
Tudo isso em nome do chamado desenvolvimento. Ouvimos várias vezes a palavra “desenvolvimento” ser pronunciada como premissa maior. Ela justifica a quebra da harmonia de qualquer bioma ou patrimônio natural.
A espécie humana atualmente é o bandido da História.


(Ecodebate - artigo de Maurício Gomide Martins)